

RESUMO:
A reflexão sobre nossas práticas enquanto cidadãos, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio em que vivemos e do seu ecossistema, cria uma necessária e urgente articulação com a produção de sentidos sobre uma efetiva educação sustentável. Essa dimensão de sustentabilidade configura-se crescentemente como uma questão que diz respeito a um conjunto de práticas dentro no universo da nossa comunidade escolar, potencializando o envolvimento das diversas áreas do conhecimento, a capacitação de funcionários e a comunidade escolar numa perspectiva interdisciplinar. O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora e que deva ser acima de tudo, um ato político voltado para a transformação da nossa comunidade. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona docentes, discentes e comunidade, numa preocupação com o desenvolvimento sustentável a fim de garantir mudanças efetivas que sustentem a nossa escola. A complexidade desse processo de transformação do nosso ambiente e dos indivíduos que o compõe, está diretamente afetado por um novo estilo socioambiental. A concepção “Escola Sustentável” amplia a compreensão de um cenário marcado por uma nova lógica de distribuição de deveres e responsabilidades entre todos.
1. Objetivos gerais:
1.1 - Implantar práticas sustentáveis na escola.
• Para a direção, a coordenação pedagógica, os professores e os funcionários: Identificar e promover atitudes sustentáveis no coletivo e, individualmente, agir coerentemente com elas.
• Para os alunos: Desenvolver atitudes diárias de respeito ao ambiente e à sustentabilidade, apoiadas nos conteúdos trabalhados em sala de aula.
• Para a comunidade do entorno: Ampliar o interesse por projetos ambientais e se integrar em sua organização e implantação.
2. Objetivos específicos
2.1 - Levar a comunidade a refletir sobre:
• As possibilidades de enfrentamento dos problemas que comprometem a sustentabilidade;
• A adesão de alunos e familiares às mudanças necessárias rumo à promoção de atitudes e ações em prol da sustentabilidade;
• O uso de celulares e tecnologias associadas como suportes eficientes e como prática para estimular a discussão entre os estudantes, o professore e a comunidade sobre temas relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade no contexto em que a escola está inserida.
2.2 - Estimular melhorias na saúde ambiental (de seu entorno e, possivelmente, em um contexto ampliado) e na qualidade de vida;
2.3 - Fomentar o uso de recursos tecnológicos que professores e alunos têm disponíveis para a realização das atividades.
3. CONTEÚDOS DE GESTÃO ESCOLAR
• Administrativo: Levantamento da demanda dos recursos naturais que entram na escola (água, energia, materiais e alimentos), dos resíduos e da situação estrutural do edifício (instalações elétricas e hidráulicas).
• Comunidade: Envolvimento na questão ambiental, com construção de novas práticas e valores e a realização de interferências na paisagem.
• Aprendizagem: Desenvolvimento de habilidades que contemplem a preocupação ambiental nos âmbitos de energia, água, resíduos e biodiversidade.
4. DESENVOLVIMENTO
Tomando-se como referência o fato de que o cidadão que compõe a população de uma cidade passa por uma escola e observando o crescente desmazelo das condições ambientais do meio ao qual pertencemos, remetemo-nos a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de pensar e agir em torno da sustentabilidade numa perspectiva escolar. Leff (2001) fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento.
O assunto da sustentabilidade nos dirige para novas ideias de aparelhamento comunitário. Isso implica na necessidade de se cultivarem práticas coletivas fundamentadas no fortalecimento das responsabilidades, do dever e do direito ao acesso à informação e à uma educação ambiental em uma perspectiva integradora por meio da tecnologia que dispomos. Existe, portanto, a necessidade de incrementar os meios tecnológicos que o aluno possui e o acesso a eles, bem como o papel indutivo do professor nos conteúdos aplicados, como caminhos possíveis para alterar o quadro atual de degradação socioambiental. Trata-se de causar o uso da consciência do alunado, expandindo a ideia de participação em um nível decisório de ações, como uma forma de fortalecer sua corresponsabilidade na inspeção e no controle dessa sustentabilidade aqui proposta.
5. ESCOLA E SUSTENTABILIDADE: ATORES, PRÁTICAS E ALTERNATIVAS
Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante, ciberespaço, multimídia, celular, internet, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar as pessoas para uma transformação em vista da defesa da qualidade de vida. Nesse sentido cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento dentro da escola: O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Entende-se, portanto, que a formulação de novos exercícios é um caminho necessário para modificar um quadro de crescente deterioração socioambiental, o que, no dizer de Tamaio (2000), se converte em “mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas”. Assim, a ideia de sustentabilidade implica a prevalência da premissa de que é preciso delinear um conjunto de inciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que reforça um sentimento de corresponsabilidade e de constituição de valores éticos. O principal eixo de atuação do nosso projeto busca, acima de tudo, a solidariedade, através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se consubstancia no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos (Jacobi, 1997). As atividades são feitas na escola e na comunidade. Os temas predominantes são subdivididos por turmas nos três turnos:
• Gestão de resíduos gerados nas atividades internas como a coleta seletiva dos resíduos gerados;
• Proteção do verde;
• Consumo consciente de energia, água e materiais de expediente (papel, copos descartáveis etc.);
• Ações para conscientizar a comunidade em relação ao consumo sustentável;
• Elaboração do Balanço Social;
• Campanhas do agasalho e de brinquedos;
• Doação de resíduos recicláveis (papel, copos descartáveis e garrafinha de água mineral), aumentando o ciclo de vida desses produtos.
As práticas desenvolvidas na escola são muito diversificadas, e a participação do alunado não se restringe a ela. No caso da comunidade externa existe também a necessidade de enfrentar os problemas do consumo consciente da água, da energia, do que seja ecologicamente correto, viável, socialmente justo e culturalmente diverso. Mas isso implica a necessidade de romper com o estereótipo de que as responsabilidades urbanas dependem em tudo da ação governamental, e membros comunitários mantêm-se passivos diante dos diversos problemas enfrentados. Com base nessas ações, o Projeto Escola & Sustentabilidade estará difundindo ações de sustentabilidade social e ambiental junto às organizações governamentais e não governamentais.
6. MOVIMENTOS COMUNITÁRIOS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A característica mais importante do Projeto é a sua diversidade. Esse amplo espectro de práticas e atores congrega inúmeras tendências e propostas orientadoras de suas ações, considerando valores como equidade, justiça, cidadania, democracia e conservação ambiental. Nesse amplo universo de agentes que envolvem escola e comunidade, alguns fazem trabalho de base, outros são voltados para a militância, outras têm um caráter mais político e outros articulam balanço de dados comunitário.
6.1- TRABALHOS DE BASE
1ª etapa - Planejamento em equipe
Reunir funcionários e alunos e iniciar uma conversa sobre a importância de criar um ambiente voltado à sustentabilidade ambiental. Propor a formação de grupos que avaliarão como a escola lida com os recursos naturais, a produção e o descarte de resíduos e a manutenção de áreas verdes ou livres de construção. A composição das equipes estará subordinada a um núcleo coordenador escolhido em votação. A coordenação do Projeto constitui a instauração dos grupos, estima os tempos para cada tarefa e seus objetivos em parcerias com outros núcleos. Por exemplo, funcionários da secretaria que cuidam da compra de alimentos podem atuar com a equipe da cozinha.
2ª etapa - Diagnóstico inicial
Cada grupo será orientado a fazer uma avaliação atenta do assunto escolhido. Por exemplo, a equipe que analisará o uso da energia deve levantar informações sobre a distribuição de luz natural, os períodos e locais em que a energia artificial fica ligada, as luminárias usadas e a sobrecarga de tomadas. Já o grupo que cuidará da água levantará o consumo médio na escola e verificará as condições de caixas d’água, canos e mangueiras. No fim, os resultados devem ser compartilhados com a comunidade escolar.
3ª etapa - Implantação
Com base no diagnóstico inicial, montaremos com os grupos ações que contemplam os principais pontos a serem trabalhados:
ENERGIA - Incentivar a todos, cartazes perto de interruptores, a desligar a energia quando houver luz natural ou o ambiente estiver vazio; efetuar a troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes, mais econômicas e eficientes, e fazer a manutenção periódica de equipamentos como geladeiras e freezers.
ÁGUA - Providenciar o conserto de vazamentos e disseminar, com lembretes nas paredes, a prática de fechar torneiras durante a lavagem da louça, a escovação dos dentes e a limpeza do edifício. Se houver espaço e recursos, construir cisternas é uma boa opção para coletar a água da chuva, que pode servir para lavar o chão e regar áreas verdes.
RESÍDUOS - Buscar parcerias com cooperativas de catadores. Além disso, é possível substituir, sempre que possível, sulfite, cartolina, isopor e EVA por papel craft reciclado e trocar o cimento pela terra prensada na construção de alguns equipamentos, como bancos no jardim. Outras iniciativas: manter compoteiras para a destinação do lixo orgânico e a produção de adubo, implantar programas contra o desperdício de comida e promover o uso e o descarte corretos dos produtos de limpeza.
BIODIVERSIDADE - Investir no aumento da superfície permeável e de áreas verdes cria espaços para o desenvolvimento de espécies animais e vegetais, além de refrescar o ambiente, diminuir a poeira e aumentar a absorção de água da chuva.
4ª etapa - Definição de conteúdos disciplinares
Em reuniões com coordenadores e professores, serão levantados os conteúdos pedagógicos que podem receber o apoio do projeto ao ser trabalhado em sala.
5ª etapa – Sensibilização do alunado
Expor em reunião os meios de sustentabilidade e discutir com os alunos práticas já existentes, entre ele, e outras que poderiam ser consideradas e adotadas pelo grupo. Orientá-los a produzir vídeos criativos com ações que incentivem a mudança de comportamento dentro da escola e em casa. Os melhores vídeos serão premiados.
6ª etapa - Sensibilização da comunidade
Para aproximar as famílias e permitir que elas também apliquem as ações sustentáveis do projeto em seu dia a dia, é preciso envolvê-las desde o início. Nesse sentido, o diretor pode convocá-las a participar de reuniões e eventos sobre o tema, expor as mudanças implantadas na escola em painéis, apresentar as reduções nas contas de água e de luz e convidá-las a ver de perto a preocupação ambiental aplicada nos diferentes locais da escola.
7ª etapa - Manutenção permanente das ações
Acompanharemos o andamento das mudanças, anotando os resultados e as pendências. Reuniremos os envolvidos para fazer as avaliações coletivas das medidas adotadas. Não hesitando em reforçar os princípios do projeto sempre que julgar necessário e procurando levar em consideração novas sugestões e soluções propostas por alunos, educadores ou famílias. É importante ter em mente que essa manutenção deve ser permanente e não apenas parte isolada do projeto.
6.2- MILITÂNCIA
6.2.1 - Conselheiros
Os alunos conselheiros visitarão a cada semana quatro residências na comunidade. As visitas serão previamente agendadas para que necessariamente se recolham informações para elaboração Balanço Comunitário, que servirá como base de acesso aos serviços do Projeto. Até o fim do primeiro ciclo, os alunos concluem as visitas em um número assentado de famílias. Os grupos de conselheiros serão orientados a partir do núcleo articulador de cada turma e norteados pela coordenação pedagógica do projeto. Após a primeira conversa com os conselheiros, os membros daquela família serão orientados a adotarem práticas de sustentabilidade e após a terceira visita, sob análise, a residência receberá o selo de reconhecimento pelo mérito de consciência sustentável. O selo é um decalque que será anexado na parte frontal da casa dando o mérito por integrar os serviços da escola sustentável motivando a base de atitudes importantes para a propagação da sustentabilidade na comunidade. A partir das informações fornecidas pelas famílias visitadas de cada núcleo, a equipe responsável pelo Projeto demonstrativo poderá elaborar os perfis gráficos para aperfeiçoar nossos serviços com maior precisão. O material produzido por estes irá possibilitar modernizar e estreitar o relacionamento entre escola e comunidade, assim como agilizar o atendimento nas residências de outros grupos.
6.2.2 - Gestão de Resíduos.
Dentro e fora da escola o ambiente é castigado pela disposição inadequada dos materiais. Geralmente em horários de limpeza os funcionários recolhem um considerável montante de resíduos gerados pelos alunos dentro da sala de aula, o que gera mais lixo para a escola. Boa parte desse transtorno deverá ser evitada com a participação de cada aluno, já que todos geram resíduos e todos devem ser corresponsáveis pela gestão dos mesmos. É nesse contexto que se destaca a gestão de resíduos, que é o simples ato de preservar o ambiente limpo e os resíduos produzidos serem direcionados para o recipiente adequado. Esse processo pressupõe a redução, a reutilização e a transformação de novos produtos pela Reciclagem artesanal ou industrial.
6.2.3 – Balanços de dados comunitários
O balanço social, ou relatório de sustentabilidade, é um meio de dar transparência às atividades, de modo a ampliar o diálogo da organização com a comunidade. É também uma ferramenta de gestão da responsabilidade social, pela qual a escola entende de que forma sua gestão atende à sua visão e a seus compromissos estabelecidos em direção à sustentabilidade. A publicação de um balanço social oferece uma proposta de diálogo com os diferentes públicos envolvidos: alunos, funcionários da escola e famílias, comunidade, meio ambiente, governo e sociedade. A proposta é de que o relatório contenha informações sobre o perfil do empreendimento, histórico do Projeto e da escola, seus princípios e valores e indicadores de desempenho econômico, social e ambiental. É importante enfatizar que para esta elaboração do BC a colaboração dos professores e funcionários será de muita valia, pois será adotado como modelo a metodologia de elaboração para futuras ações.
7. - AVALIAÇÃO
Retomando os objetivos do projeto, recordaremos o que a escola espera alcançar, e questionaremos se eles foram atingidos, total ou parcialmente. Montaremos uma pauta de avaliação sobre cada item trabalhado e retomaremos aqueles que merecem mais aprofundamento. Avaliaremos também o envolvimento da equipe e dos alunos, se todos estão interessados na questão ambiental e se eles mudaram as atitudes cotidianas em relação ao desperdício e ao consumo.
8. - FERRAMENTAS DE APOIO
A utilização do celular promoverá a coleta de dados de maneira conjunta, pois ele será o caminho, um estímulo para auxiliar na assimilação e acomodação dos conteúdos a serem abordados nas atividades propostas. Serão criadas comunidades virtuais com logomarca do Projeto para facilitar a comunicação e o acesso de informações coletadas. Os grupos serão os responsáveis por alimentar a rede abastecendo com dados pesquisados na comunidade e ampliando as discursões. Desse modo o aparato móvel servirá como suporte para:
• Gravar trechos de explicações ou entrevistas;
• Compartilhar com a turma, por meio de redes sociais e blogs,
• Dados de saídas a campo;
• Usar calculadora para cálculos de estatísticas;
• Utilizar a agenda para as tarefas;
• Produzir vídeos de curta duração;
• Enviar mensagens de atividades para os colegas.
Outros suportes que nos servirão de ferramenta para o exercício dos nossos trabalhos serão as contas de luz e água, plantas do projeto da escola, planilhas para a anotação de dados sobre o consumo de recursos naturais, cartazes de papel reciclado para a confecção de avisos sobre desperdício, papéis para mapas e material escolar em geral.
9. - CONCLUSÃO
Concluímos, afirmando que o desafio político da sustentabilidade, apoiado no potencial transformador das relações entre escola e comunidade representa um processo de inovação no conceito de arquitetar uma escola sustentável, esse desafio encontra-se estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da democracia e da construção da cidadania. Nosso projeto busca superar o comodismo e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação, aos valores éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa estrutura socioambiental da qual estamos inseridos.
REFERÊNCIAS
BECK, U. Risk society. London: Sage Publications, 1992.
CARVALHO, I. A Invenção ecológica. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.
JACOBI, P. Cidade e meio ambiente. São Paulo: Annablume, 1999.
JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.
LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.
MEADOWS, D. et al. Limites do crescimento: um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre os problemas da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.
Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para a reflexão. In: CAVALCANTI, C. (org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1997. p.384-390.
PÁDUA, S.; TABANEZ, M. (orgs.). Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. São Paulo: Ipê, 1998.
POLÍTICAS SOCIAIS E AMPLIAÇÃO DA CIDADANIA. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2000.
ANEXOS:

